Gostaria de compartilhar minhas impressões a respeito do II Festival de Música Contemporânea Brasileira, que ocorreu entre os dias 18 e 21 de março na cidade de Campinas, do qual participei com uma comunicação oral e um recital.
O festival que nesta edição homenageou dois gigantes da composição brasileira: Gilberto Mendes (1922) e Edino Krieger (1928), contou com a presença ilustríssima destes dois compositores durante toda a programação do evento. Além de bate-papo com os compositores o festival também proporcionou inúmeras apresentações artísticas, palestras e comunicações de pesquisa a respeito de suas vidas e obras. Foi uma experiência incrível poder assistir e conviver por um momento com essas duas personalidades ímpares da música brasileira. Entre algumas das obras mais célebres dos homenageados, destaco : Beba Coca-Cola (1967), Santos Football Music (1969), Estudo Magno (1993), Canticum Naturale (1972), Balada do desesperado (1954), Terra Brasilis (1999), entre muitas outras. Além da importância histórica e estética da obra destes compositores, que foram protagonistas de dois dos mais importantes grupos que abriram as possibilidades da música contemporânea no Brasil (Música Viva e Música Nova), foi enfatizado o papel fundamental que tiveram para a divulgação da música brasileira através dos eventos que foram idealizadores: o festival Música Nova (já na 48ª Edição) e as Bienais de Música Contemporânea Brasileira (já na 21ª Edição). Destaco o entusiasmo e simplicidade destes dois compositores que foram extremamente corteses e bem humorados durante toda a programação, fato que certamente engrandeceu o evento.
Deve ser registrada a qualidade excepcional dos convidados que participaram das apresentações artísticas, bem como da parte de pesquisa do evento. Registro alguns nomes que me chamaram a atenção: os músicos e pesquisadores Andre Egg, Ermelinda Paz, Achille Picchi e Teresinha Prada além do duo formado pelo pianista Antônio Eduardo Santos e Adriana Bernardes, o duo Cancionâncias (formado por Cyro Delvizio e Manuelai Camargo) e o duo formado por Luiz Amato Achille Picchi,
Uma vez que a maior parte da programação foi realizada no auditório da Unicamp quase pareceu que o festival tratava-se de um evento acadêmico da universidade, mas deve ser enfatizado que foi organizado pela SINTONIZE produtora cultural. A entidade que proporcionou um evento com ótima organização deve ser parabenizada. Fica o desejo de que sejam realizadas muitas mais edições do festival, assim como já acontece há décadas com os festivais que foram uma vez idealizados pelos homenageados desta edição.
Para encerrar o evento ocorreu um concerto com a Orquestra Sinfônica de Campinas com a direção de Victor Hugo Toro, dedicado inteiramente a compositores brasileiros. Foram executadas as seguintes obras:
Ernst Widmer: sendas de um outro (...einander), op.105
Camargo Guarnieri: Concerto para violino n. 1 (solista Francesca Anderegg)
Gilberto Mendes: Abertura Issa
Edino Krieger: Canticum Naturale
O concerto inteiro foi muito bem executado, apresentando um repertório muito interessante e que poderia ser bem mais frequente nas salas de concerto. Destaco o trabalho do maestro bem como da solista que demonstraram muita musicalidade, além de segurança nos seus respectivos papéis. Entre as obras que mais chamaram a atenção, destaco o Concerto para violino de Camargo Guarnieri, que sem sombra de dúvidas trata-se de uma das mais bem concebidas obras do gênero do repertório brasileiro, e o Canticum Naturale de Edino Krieger, que explora sonoridades da floresta amazônica (rio, insetos, pássaros),aliado a uma orquestração fenomenal. Acredito que essas obras são "obrigatórias" do repertório sinfônico brasileiro.
...